14 de setembro de 2011

Segura solidão




Ela tinha um pouco de rebeldia no andar, ela era daquele tipo de garota contraditória. Seria tarja preta, caso fosse remédio. Se bem, que ela nasceu para ser veneno. Entretanto, ela sempre foi doce. Cicuta é uma boa metáfora para a Janaína.
Dormia sempre pouco, gostava do dia, amava a noite. Ao escurecer despia sua responsabilidade de gerente, tirava do ombro o peso das cobranças e se sentia mulher. Podia ser quem ela quisesse, tinha mil facetas, e todas elas: Janaína.
Gostava de bares e boates. Numa noite fria conheceu Jeremias. Um músico de sorriso fácil e corpo grande.

_ Mais um whisky, por favor. - Pediu a moça, já um pouco embriagada.


Sentou-se e ficou com o copo na mão, fazendo os gelos girarem sem parar. Jeremias que estava suado, após sua apresentação sentou-se próximo, para observá-la. Claro, ela percebeu.


_ Nunca viu uma mulher tomar whisky?
_ Nunca vi uma mulher como você.
_ Que gosta de whisky?
_ Não, uma mulher que combina com whisky.

Janaína gostou dele. Ele se interessou por ela. Jeremias, adotou o nome Jerry, segundo ele 'nome de gente famosa, o de batismo é muito sertão'. Ele subiu ao palco e cantou 'Use Somebody', não dedicou a ninguém, mas sabia que Janaína entenderia que era dela a grande canção da noite. E ela entendeu e fez disso uma revolução explosiva e silenciosa. Sentiu-se vibrar como a muito não experimentava. Acabou o show. Vieram mais doses de whisky. A garrafa.


Foram para o apartamento dela, bem localizado na zona sul, um dos pontos mais altos da cidade. Outras sensações estranhas. A essa altura ela nem sabia o que estava pensando, só necessitava de carinho. De ser mulher, atenção e prazer. Jeremias, assumiu o papel de homem. Lhe proporcionou uma noite inesquecível. Sentimentos inéditos para ela. Acordaram separados, ambos sem roupa e introspectivos.

_ Você tem que ir embora.
_ Ainda é cedo, quero ficar mais contigo.
_ Não é possível.
_ Não gostou de mim?
_ Ao contrário.
_ Então.
_ Por isso mesmo deve sumir.
_ Janaína, por que?
_ Eu já te amo. E por isso quero te esquecer.
_ Mas...
_ Eu não posso amar ninguém, não posso me dar esse luxo.
_ Me escuta... olha eu...
_ Adeus!

Se levantou, seca. Saiu enrolada no lençol branco e quando saiu do banheiro, só havia um bilhete de Jeremias que dizia:


'Jamais pensei que levaria 'Use somebody' tão a sério. Você é encantadoramente perigosa. Vou, mas a levarei. Piegas, eu sei. Real, talvez.
- Adeus. Jerry.'

Não conteve apenas em pensamento, acabou falando baixo:
_ Piegas e irreal. Jeremias. Jeremias... Je.re.mi.assssss!


Se jogou na cama e mais uma vez agradeceu por estar de ressaca, com tamanha dor de cabeça era impossível lembrar de qualquer outra dor, inclusive daquela solidão desejada. Parece estranho... mas poderia ser...


Por Camila Blopes

4 comentários:

Fê Miceli disse...

Fiquei tão enrredada na história que não consigo emitir opinião! Ela quer ser só, dona de si e tem medo de se entregar, de se envolver e sofrer. Medo de perder sua tão almejada liberdade e principalmente de ser a cada dia uma mulher, para ser mulher de um homem só, amesma mulher todas as noitas.

É muito pra ela... e ao mesmo tempo é muito pouco para outros!

Amei!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Amei, e me identifiquei!
Fico por aqui e se desejar me visitar
e ficar
http://michellecdribeiros.blogspot.com/

Nanda Assis disse...

Eu sou sua fã. vc fala mil vezes melhor que clarice sabia. eu me enquadro aqui, respondo algumas perguntase descubro coisas.adorei.

bjos...

Camila disse...

Obrigada meninas
Beijocas
;*