16 de abril de 2010

Normas

Ela acordou cedo. Levantou rapidamente da cama, apesar do frio, seguiu descalça até o banheiro, onde lavou seu rosto.
“– Puta que pariu! Que água gelada.” - Foi sua primeira frase do dia.
Escovou os dentes amarelados pelo cigarro e prendeu os cabelos crespos e negros sem penteá-los. Fez uma trança para disfarçar o estado de sua gaforina.
Vestiu depressa seu uniforme, calça jeans e camisa verde. Saiu de casa sem falar com ninguém. Afinal, não passava das seis e meia.
Logo foi ligando o mp3 e aumentando o volume. Ela gostava de caminhar devagar, observando tudo, tudo o que era ‘sem graça’ para a maior parte das pessoas.
Pedras, chão, meio-fio, postes, sujeiras e cuspes.
Era com isso que ela dava-se o ‘luxo de perder tempo’. – Coloco aspas, porque não sou eu quem diz. São os outros.
O vento ouriçava seu cabelo, mas ela não se importava. Sempre achou charmoso fios rebeldes desgrenhados.
Apesar do sol claro ter saído, não era aguentava usar óculos escuros.
O trajeto até o ponto de ônibus não era longo.
Em pouco tempo já estava parada, de pé, rodeada de estranhos. Estranha mania, a dela... sempre seguia de cabeça baixa até dar sinal e descer do ônibus lotado de vidas. Não olhar os olhos dessas pessoas, era isso que ela evitava, não queria vê-los.
Ela não gostava de ver gente estranha. E para ela, isso é normal.
“Não gosto de gente que não conheço. Não gosto de olhos desconhecidos. Prefiro ver caminhos.” – Ela repetia, como um texto decorado, sem pudor ou receio.
Poucos compreendem esse gosto dela. Alguns a chamam de louca, outros de esquisita, e alguns de anti-social.
Eu a conheço como Norma.
Por Camila Blopes.

10 comentários:

Érica Ferro disse...

Posso dizer? Eu tenho uma veia de antissocial, rs.
Mas eu tô melhorando, eu tô!
E não vivo sem óculos escuros. ;p
Beijo, Mila.

Érica Ferro disse...

Posso dizer? Eu tenho uma veia de antissocial, rs.
Mas eu tô melhorando, eu tô!
E não vivo sem óculos escuros. ;p
Beijo, Mila.

Raymara Milhomem disse...

Lindo aqui, estou seguindo.
Beijinhos doce *:

Anônimo disse...

E eu nunca mais tinha aparecido aqui ^^!
Seus textos arrebentando cm sempre!
me pareço um pouco com essa Norma =/.

shelhass disse...

Se tu me conhecesse, ias escrever; "eu a conheço como Shelhass".

Adoreiiii. Super me vi no texto. Como sempre, cheio de caminhos. Afinal, porque a gente tem que olhar nos olhos? Isso é tão intimo.

Daniel Savio disse...

Medo do diferente nunca deve ser desculpa para procurar a felicidade, não concorda?

Fique com Deus, menina Camila.
Um abraço.

Camila disse...

Beijos meus queridos
Obrigada pelos comentários e interpretações.
;D

Noslen ed azuos disse...

Gostos destas palavras jogadas pelo caminho, chego a sentir o vento e a ouvir trilha sonora.

bjs
ns

Poetic Girl disse...

TAMBÉM prefiro encontrar olhos familiares, por vezes o olhar dos outros incomoda... bjs

Camila disse...

Adoro olhares!
*-*