E então um novo ano começou, mas dentro dela tudo parecia tão velho e conhecido. Um museu, um cadáver, um monte de escombros, algo muito desarrumado que fazia parte dela. Aquela obrigação de felicidade de início de ano não a contagiava mais. Estava cética, estava estática, estava inerte, estava desacreditada.
O chamado ‘velho ano’ havia sido bom, não desejava que acabasse logo. Na verdade, ela não contava mais os dias. Não vivia mais por calendário. Preferia ser atemporal, era menos difícil. No fundo a moça até queria mudar, mas estava acomodada. Isso, acomodada! Já havia vivido tantas histórias que terminaram com lágrimas e tempestades que preferia ser ilha.
As pessoas vomitavam esperanças e sorrisos, ela respirava realidade, ela transpirava decepção. Não pense que ela era triste, pois não era. A moça tinha um sorriso bonito, apesar de torto, e gostava de apresentá-lo pelas esquinas da vida, ela era real. As vezes sorria mais do que sentia, mas nem por isso era hipócrita. Ela gostava de abraços, de cheiros e de pessoas corajosas. A moça apesar de brava e rabugenta, se emocionava facilmente e tinha um coração mole. É difícil descrevê-la, desculpe-me pela inconsistência dos fatos. Isso é coisa dela, tipicamente. Um ser deliciosamente complicado, mas que poucas pessoas tinham paciência de descobrir.
Talvez um dia ela volte a ser menos literatura e mais poesia. Ou talvez ela se transforme em música. Ou quem sabe a moça torne-se uma fotografia. Quando ela é o assunto, nada é afirmação, não há certeza. Se um dia você conhecê-la, certamente vai se apaixonar. Ou odiar. Depende dos humores, do teu, do dela. Isto não é irônico? Boa sorte e bom ano novo, se for novo, para você. Dois mil e doce, ela lhe deseja!
Por Camila Blopes
3 comentários:
Que texto lindo cam, com texto ou poesia, vai ser doce.
bjos...
Beijos Nanda ;D
Postar um comentário