18 de maio de 2011

‘é estranho mas poderia ser’

Margarida não gostava do teu nome, sempre o omitia. Se chamava de Flor. O que para ela não dava no mesmo. Apesar do nome, ela era pedra. Não gostava de gente e muito menos de delicadeza. Preferia a solidão com café.
Mas Flor nem sempre foi assim. Ela já teve alguns namorados e até animais de estimação. Foi com o término do último relacionamento que ela resolveu podar todas suas doçuras e afeições. Primeiro se mudou, saiu da casa que dividia com as amigas e foi morar no menor apartamento do terceiro andar do prédio novo da cidade. Depois trocou de emprego, saiu da equipe de desenvolvimento e começou a projetar sozinha em uma sala. Então deixou seu cão com sua mãe. Logo começou a detestar 'cubo mágico', jogou fora todos aqueles que ela comprou e nunca presenteou, não por raiva e sim para não ter sua magoa transformada em cubinhos coloridos.
Em algumas noites de sexta-feira colocava um vestido cinza, sem graça e ia ao bar Cult do outro lado do bairro. Sentava-se em um lugar bem ao canto, mais reservado, pedia uma dose de Absinto e enquanto degustava lentamente observava as pessoas. Nunca ria de ninguém, apenas ficava inventando teorias: ‘aquela moça usa roupa laranja com roxo porque gosta do por-do-sol’, ‘os rapazes com gel no cabelo não tiram os olhos da mesa das meninas com cara de emo porque estão tentando ver se por trás de toda maquiagem borrada elas são gatinhas’, ‘esse cara de olho azul não para de olhar para mim porque estou sozinha tomando uma bebida forte, babaca!’... E após terminar o terceiro drink ela pagava a conta e saía sem deixar gorjeta para o garçom.
Os sábados e domingos eram dias de total hibernação para ela, não saía de casa para nada. Se descobrisse que estava faltando algo em sua cozinha, recorria aos deliverys. Não gostava de ver pessoas sorrindo, isso a lembrava que ela já sorrira também(mesmo jurando que foi em outra vida). Casais! Ah ela tinha pavor, nunca mais assistiu televisão nem ouviu canções, passou a curtir música eletrônica.
E do jeito dela, levava uma vida feliz. Feliz e não completa. Feliz. Feliz do modo dela... Eu não a compreendo e tampouco sou amiga de Margarida ou qualquer outra Flor, flores são bobas! Idiotas! Seja ela uma Rosa ou um Girassol. Margarida feliz, não completa no bem-me-quer e Mal-me-quer...






Por Camila Blopes

4 comentários:

Vítor Palmeiras disse...

Também não gosto de casais, especialmente os felizes.

Juliana Lira disse...

Compreendo Margarida, é preciso muita força pra suportar as ventanias sem se dobrar.Nem todos tem essa força...

Espero que um dia ela consiga superar e seguir em frente sem ser ilha. E que supere o medo.

Milhoes de beijos

e-Chaine disse...

É. Tem razão. "Não completa com..."

...Mas, completa com: parabéns. Margarida.
Beijos, querida.

Camila disse...

Obrigada a todos pelos comentários!
;]

Beijos