Sobre listras e cores

De blusa listrada, calça jeans e All Star já gasto, ele chegou ao apartamento dela. Tocou a campainha impacientemente.
Minutos depois de vestido florido, descalça com as unhas do pé pintadas de azul, ela abriu a porta.
Ele engasgado. Ela silenciosa.
_ Podemos conversar?
_ Entre.
Ficaram de pé, se olhando, palavras flutuavam na imensidão do olhar pesado que se empunham.
_ Eu voltei. Ainda não sei por qual motivo exatamente. Mas sei que você faz parte dele.
_ Não pedi para que fizesse isso.
_ Eu não falei isso.
_ Então?
_ Eu voltei.
_ Não foi aquele, você é outro.
_ Sou, mas outro melhor.
_ Tão melhor que demora quase dois meses para me avisar sobre seu retorno. E só fiquei sabendo porque beijou uma conhecida minha na balada que eu estava. Tão melhor que fingiu não me conhecer no estacionamento. Tão melhor que usa blusa listrada agora.
_ Não avisei antes porque queria ter certeza do motivo que me fez voltar, não queria chegar aqui e dizer o que eu disse. Que você faz parte de um motivo que não sei qual é. Fui a uma balada sim, e beijei uma garota e depois soube que era do seu curso. No estacionamento fingi não vê-la por vergonha das burrices que fiz. E agora uso listrado, pois nesses seis meses que morei fora, a blusa que mais usei foi aquela que você me deu e eu não havia gostado.
_ A blusa listrada que lhe dei de aniversário e você nunca usou. Pois listras não fazem seu estilo.
_ Sim, blusa de listras que não gostava. Mas que mal tirava do corpo lá. A blusa era minha menina, era você. Nosso amor. Com ou sem listras. Eu te amo. Mesmo com medo. Mesmo longe. Mesmo sem listras. Sempre te amei.
_ É você mudou muito. Deixa transparecer agora?
_ A saudade ensina muito.
_ Ensina até a usar vestidos.
_ E pintar as unhas de azul?
_ Vermelho me irritava, lembra a gente. E eu estava só. Era um.
_ Agora somos dois.
_ Vermelhos?
_ E listrados.

Por Camila Blopes