Um par de olhos. Ou dois.

“Parecia um ímã, uma anomalia. Irresistível para os olhos, semelhante à rua das estrelas amarelas.”*

Quando vi aqueles olhos castanhos me senti mais que atraída. O tom do castanho me lembrava algo amarelo. Amarelo e brilhante. Apesar de serem olhos escuros e aparentemente frios, era evidente que havia um calor intenso dentro deles.
Pude sentir mesmo a distância.
O dono dos olhos mais incrivelmente fascinantes que vi, segurava um livro de capa branca, onde se podia ler ‘a menina que roubava livros’, suas mãos o seguravam firme porem com ternura.
Eu tentei, mas era impossível parar de olhá-lo. Eu queria apenas ficar desta maneira, de longe a observá-lo. Mas ele instintivamente percebeu alguém a olhá-lo, eu.
Por alguns segundo consegui manter meu olhar no dele. Pouco tempo. Não consegui sorrir, apenas mexi um pouco com a cabeça, assim como alguém confuso faria.
Senti o calor em meus olhos, por pouco tempo.
Pensei que queria ir até lá, mas eu não queria de fato. Não fui. Continuei como estava. Apenas o observava.
O tempo passava calmo e exato.
Num instante percebi que era hora do meu embarque, segui sozinha.
Acomodei em minha poltrona. Fechei os olhos para não perder a visão daqueles olhos castanhos. Coloquei meus fones de ouvido. De olhos fechados fiquei algum tempo que não sei dizer. Os abri quando senti alguém esbarrar em minha mão.
_ Desculpe-me, senhorita. - E sorriu mostrando vários dentes brancos.
Sorri de volta.
Ele sentou-se e retirou da mochila um livro de capa branca.
Então olhei bem em seus olhos... mas não. Não era o dono dos olhos que me encantou. Este era dono de olhos verdes. Tão verde quanto esperança.
_ Este é um ótimo livro. Está gostando? – O perguntei com um ar instigante.
_ Estou e muito. – Sorriu de maneira que me deixou sem graça. Mas que no fundo eu gostei.
Uma pena eu não querer olhos de esperança. Era o que eu pensava depois de cada sorriso que ele me dava.

Por Camila Blopes

* Frase de Markus Zusak – Em “A menina que roubava livros”